Artigo - Empreendedorismo dentro do arco-íris: negócios crescem mais quando abraçam a diversidade28/6/2020 Junho é o mês do orgulho LGBT¹ e você, pessoa à frente de um negócio, pode fazer muito mais do que pintar a sua logomarca com as cores do arco-íris ou criar um sticker da sua empresa com uma bandeirinha da pride Por Leandro de Carvalho*
Pessoas LGBTI+ têm um significativo peso no mercado consumidor. Estima-se que de 6% a 10% da população brasileira é LGBTI+. Estamos falando de mais de 20 milhões de pessoas que vestem, comem, moram, usam serviços de educação, comunicação, transporte, que buscam opções de lazer e entretenimento, que usam produtos para atender desde suas necessidades básicas às supérfluas e de luxo. Se recortarmos a faixa etária para entre 18-34 anos, o percentual estimado de pessoas LGB (Lésbicas, Gays ou Bissexuais) no Brasil sobe para 28%. É uma grande fatia do mercado consumidor. Segundo o relatório da LGBT Capital, em 2018 o pink money (ou dinheiro rosa - dinheiro de pessoas LGBTI+) movimentou US$ 3,6 trilhões no mundo. Só no Brasil, foram US$ 107 bilhões, o equivalente a mais de R$ 390 bilhões. É poder de compra suficiente para não ser ignorado por empresa alguma. Além disso, por se tratar de um público com diferentes comportamentos de consumo, estima-se que, neste segmento populacional, os gastos com cultura, gastronomia e viagens são cerca de 30% maiores do que o de pessoas heterossexuais. Além dos números promissores de mercado, as mudanças no comportamento de consumidores do século 21 também precisam ser consideradas. Millennials (pessoas que hoje têm entre 20 e 36 anos - sim, aquela grande fatia do mercado consumidor) têm um interesse maior em entender o que exatamente estão consumindo e buscam saber quais são as ideias, valores, posicionamento e os processos que estão por trás de uma determinada marca, produto ou serviço. E como essa geração é ligada em causas socioambientais, ela preza por marcas que respeitam o meio-ambiente e os direitos humanos, e estão atentas à diversidade e inclusão. Atenção aos direitos humanos E hoje, consumidores estão atentes e se mobilizam contra marcas que não respeitam direitos humanos e o meio ambiente. A Zara, por exemplo, enfrentou uma série de problemas de imagem por conta da compra de produtos feitos com mão-de-obra precarizada. O primeiro caso emblemático de boicote foi no ano de 2014, quando a gigante alimentícia Barilla foi boicotada após comentários homofóbicos do CEO Guido Barilla. O prejuízo foi tamanho que a empresa demorou 5 anos para limpar a sua imagem com pessoas consumidoras italianas, incorporando casais homoafetivos em sua publicidade e toda uma infraestrutura empresarial para absorção de pessoas LGBT+ em seus quadros. Estes dois casos demonstram como hoje as empresas precisam superar o discurso vazio e realmente demonstrar o respeito e a inclusão de pessoas LGBTI+. Abraçar a diversidade é imperativo de sobrevivência do negócio. Para além de consumidores Mas é necessário pensar as pessoas LGBTI+ não só como consumidoras e sim como parte do sistema produtivo, como pessoas capazes de fazer parte, em todos os níveis, das fases e cadeias de produção de bens e serviços. Ter uma equipe diversa ajuda a produzir bens e serviços que atendam as necessidades de uma população diversa. Então, ter pessoas LGBTI+ nas equipes das empresas é um passo dado na direção de produtos e serviços que de fato sejam desejáveis por este segmento da população. Quando falamos de diversidade LGBTI+ em produtos, colocar as cores ou o desenho do arco-íris no produto ou na embalagem não resolve. A efetividade da diversidade está em pensar nos desejos e anseios de pessoas que não estão, muitas vezes, em conformidade com os padrões binários de gênero e sexualidade. Equidade é sobre inclusão, permanência e crescimento Também não basta se limitar à contratação de pessoas LGBTI+. É preciso criar condições para que essas pessoas de fato façam parte da empresa de forma equitativa. E ser equitativo, em alguns contextos, pode significar a adoção de práticas de inclusão, permanência e crescimento, que vão desde processos seletivos às cegas (sem conhecer fisicamente candidates) até a criação de comitês de apoio e desenvolvimento. Segundo a Out Leadership, 68% das pessoas LGBTI+ sofrem homofobia nos espaços de trabalho e isso tem um impacto direto na produtividade e na retenção dessas pessoas (muitas delas talentos). Apesar de haver normativa legal, ainda é comum pessoas trans terem problemas com o uso do nome social e com banheiros, casais homoafetivos enfrentarem barreiras para extensão de benefícios aos cônjuges e colegas de trabalho isolarem socialmente pessoas não cisgênerero e/ou heterossexuais. Criando uma cultura que reconheça e contemple as diferenças Muitas empresas ainda precisam superar obstáculos de inclusão e ir para além do diversity washing - termo usado para designar a falsa diversidade: empresas que parecem ser diversas, mas nas suas práticas reais não são. Ser diverso e inclusivo requer mais do que colocar a diversidade na publicidade. Diversidade começa dentro, na criação de uma cultura empresarial que reconheça e contemple as diferenças (sociais, de gênero, de raça, etc), que cria as bases para que todas as pessoas do time, sem distinção, possam se desenvolver profissionalmente, desenvolver os seus talentos e dar a sua máxima contribuição para o crescimento do negócio. Em pleno 2021 é preciso entender, de uma vez por todas, que negócios são pessoas e pessoas são diversas. ¹LGBTI+ - Sigla que significa lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e trangêneros, instituida no Brasil no ano de 2008 durante a 1ª Conferência Nacional GLBT. Hoje em dia é comum ver a sigla LGBTI+, que já incorporou o “I” de Intersexo e o + para representar todas as demais expressões de gênero, condição sexual e afetiva. OBS: Para ser mais inclusivo, este texto foi escrito com o esforço do uso de pronomes e gêneros neutros. Sobre o autor deste artigo Leandro de Carvalho é baiano, morador de Brasília, um internacionalista com pitadas de economista. Regido por Omolu e Oxum, como toda pessoa LGBTI+ é um sobrevivente. Funcionário da Fundação Assis Chateubriand, atua como gerente-geral do Centro Olímpico e Paralímpico da Estrutural e como guardião da Comunidade Ei. Também é colaborador da TODXS Brasil, startup social que trabalha pela inclusão LGBTI+ no Brasil. Sobre a Comunidade Ei! A Ei! Comunidade de Empreendedorismo e Inovação é uma iniciativa da Fundação Assis Chateaubriand, que busca desenvolver pessoas, ideias e negócios, nos ambientes digital e presencial, de um jeito vibrante e inspirador. Apostamos no empreendedorismo como ferramenta para inclusão, transformação e mobilidade social. A partir de 2020, nosso foco é o empreendedorismo feminino. Por meio da educação empreendedora de base, nosso desafio é apoiar uma nova geração de mulheres empreendedoras, estimulando o desenvolvimento de soluções bem estruturadas com um olhar empático, inovador, sustentável e de impacto. Nosso Espaço Ei, que fica no SIG em Brasília, é um lugar aberto para a realização de diversos cursos, workshops e eventos que reúnem pessoas que pensam diferente e acreditam no potencial inovador da cidade. Quer trazer seu evento ou aproveitar as oportunidades de conhecimento? Acesse www.ei.org.br A Ei! 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Agosto 2020
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